Laboratórios Experimentais de Caligrafias Assêmicas
by Lia Petrelli
A escrita assêmica sempre fez parte de minha vida, antes mesmo de saber que existia um noma para isso. Desde muito pequena sentia que participava do mundo como peça sem par, fora do quebra-cabeças. Aos 18 anos descobri a escrita assêmica e pude ver que me movo em harmonia na criação de novas articulações de pensamento, participando, sem me dar conta, de construções orgânicas que arredondam vértices de compreensão sobre a constante crise de nossa comunicação globalizada.
Depois encarar o mundo da assemia de forma (meio) solitária, resolvi criar um laboratório experimental. Saber da existência de uma linguagem que não precisa de palavras fez com que me apaixonasse perdidamente por essa vertente da poesia visual.
Em 2019 dava aulas para crianças de 0 à 16 anos, e propunha brincadeiras que partiam da pergunta: É possível escrever com partes analfabetas do corpo? Então deixei que as crianças me ajudassem a descobrir. Elas abriram todo o campo experimental que proponho para adultos, hoje em dia. Como escrever com os pés? Com a boca? Com as pernas? Talvez escrita seja dança. Talvez a assemia esteja dentro do corpo.
Em 2020 comecei a experimentar com pessoas formadas nas mais diversas áres: artes, direito, biologia, psicologia, engenharia. Para minha surpresa, a escrita assêmica também os encantou, então os exercícios que crio passaram a fazer parte do repertório lúdico do meu dia-a-dia.
Meu laboratório chamado “Silêncio, Ruído” explora as múltiplas caligrafias das linguagens, isto porque tudo o que tenho pesquisado até agora sobre a escrita assêmica, me mostra que não podemos criar regras que delimitem o fazer expressivo dos seres humanos. A escrita é por si só uma linguagem mental, e muitas vezes pode se manifestar diretamente no corpo, no vídeo, na colagem, na pintura, no desenho e até no som.
As últimas experiências que articulei com musicistas me apresentaram uma nova forma de encarar a caneta e o lápis: como um instrumento musical, que produz na ponta um som rítmico e que pode formar dança e música ao mesmo tempo, abrindo cada vez mais os leques da experimentação.
Até agora articulei 7 turmas (5 encontros de 2h) do laboratório, e 8 oficinas (1 dia), e conforme abraço a prática percebo que os principais elementos são a liberação de fluxo da energia do pensamento, a fascinação em despreocupar-se com o que surgirá, o incomodo e o aprendizado sobre como lidar com o que emerge, como aprender com a frustração, como realocar os desconfortos do que produzimos a partir do impulso.
Lia Petrelli is a visual artist, writer, poet and psychoanalyst, based in Brazil.
Researches asemic writing since 2015, and offers the experimental laboratory since 2019.
In addition to this, is videomaker and art director to video clips and cinema.