“quatro poemas”
by Lorenzo Jesus
carnaval
um bom poema
deve atravessar cabeças
como o desfile de uma campeã
(escola de samba)
o poema precisa ser entendido
também como cultura popular.
precisa levantar e empolgar
o folião leitor.
poesia e carnaval
são coisas emparentadas,
cúmplices da emoção humana
a ornar o barroco de nossas almas.
terminar um poema
numa quarta-feira de cinzas
é plástico e triste
quase como desorelhar van gogh.
poema absoluto
faço versos e finjo
que são para aqueles que me pedem.
faço versos e brinco
de manobrar palavras.
é dessa forma que a coisa nasce,
à deriva da minha intuição de poeta.
tudo em minha vida,
cada vez mais,
parece convergir
para o poema.
até nas conversas
e nos gestos mais simples
e cotidianos
está a poesia me espreitando
e se fazendo.
ainda não cheguei
ao patamar de grande poeta,
mas os anos têm me ensinado
a melhorar.
aí, fico pensando…
seria demais pedir
pra viver um tempo,
aquele que é necessário,
pra ter condições
de me transformar
num poema absoluto,
daqueles que a terra há de comer?
Direito Autoral
Tudo que já escrevi
soa como mortos e feridos
nesta batalha
que é a vida
Vida vidraça
estranha ou não
sedenta por pedradas
e versos
E as coisas
que nunca jamais escrevi
estão na fila
acampadas remotamente
Quando eu for
escrever um novo poema
acho que devo avisar
antes de mais nada
Vai que alguém que passa
os olhos por aqui
e redescobre a poesia
que deixou de fazer um dia?
Biografia
Lorenzo de Jesus Miranda Falcão nasceu em 1958, em Niterói. Reside em Cuiabá desde 1970, cidade onde adentrou-se nas atividades culturais. Desde os anos 1980 vem atuando nas artes, como jornalista e também acumulando experiências em literatura, teatro, cinema e música. Nos últimos três anos tem se dedicado mais à literatura e, em 2018, foi eleito para a Academia Mato-grossense de Letras.
Desde 2010 está à frente do site tyrannus melancholicus (http://www.tyrannusmelancholicus.com.br), espaço referência no jornalismo cultural de MT, notadamente, na literatura. Em 2018, junto com três amigos escritores, criou o selo editorial Arcada (https://www.leiaarcada.com/), com foco em autopublicações.
Suas letras estão presentes em inúmeras coletâneas. Individualmente, já lançou as seguintes publicações: “Motel Sorriso” (2002 – prosa – edição do autor), “dIFERENTE” (2005 – poesia – edição do autor), “Mundo Cerrado” (2011 – poesia – Entrelinhas Editora), “Duplex – concurso interno de contos”, com sua saudosa esposa Fátima Sonoda (2018 – prosa – Editora Carlini & Caniato), e “Distribuidora Falcão” (2019 – poesia – Arcada).
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