O balé de tudo
by Wellington Amancio da Silva, Mayk Oliveira, Leo Barth
O balé de tudo
Wellington Amancio da Silva
O pessimismo a fleuma o forró
O scotch e a dança
A reputação falha
A farofa de praia
O caviar e as aspas
O medo de arrastões
A soberba dos amantes
são modos particulares
de ser no mundo
Todas essas coisas coexistem,
como num balé/mapeiam os corpos
e o que se quer são conversas telepáticas
Ao menos o vinil triplo
de George Harrison
All things must pass
nos acena da estante
Um deleite que roda bem em 78rpm
e vinho
O calor na garganta no ventre
O sopro de Pã o balé de tudo
As coisas que se ajuntam por si mesmas
dentro de outras coisas, como o sangue cheio
de vermelho cio e de agulhas de diamante
O resto é maconha de bosta de cavalo
*
Poeta Mayk Oliveira — Áudio de recitação extramundano. Narrativa cotidiana, habitada por pessoas e leve pela tranquilidade. A ironia do poema surpreende no final. É o que mais gosto, do efeito final, de onde surge o inusitado. A normalidade da voz de Mayk Oliveira na recitação trouxe uma aparente normalidade ao absurdo (que que entre nós o absurdo é normal) e o desavisado ouvinte pode cair da cadeira verde de balanço. A suspeita reconstrução do mundo por mentalidades arborosas.
Poeta Leo Barth —Agradeço muito a interpretação do Maik ao poema. Em suas palavras, sempre impressionante ser lido e ouvido por vozes amigas. O próprio poema se explica ao autor: impressionante. Quanto ao poema, assombraram-me figuras. Entre tantas representações das coisas e sentimentos: do pessimismo ao forró, do álcool para dança e à dança, reputação e alegrias/soberbas – das coisas, mais uma vez digo, apenas representadas e não as coisas-mesmas – às compensações em um “balé de tudo”. O poeta lá e cá entende diferenças e sabe que o que vê é filtrado por seus óculos – tudo é placebo: realidades construídas. E de resto, salvo discos divinos que rodam às imagens, são devaneios, mais que ébrios ou sativos da Santa Maria Rrrrrrûana! Amém! Parabéns, nobre! Boa quinta de inferno aos amigos! A musiquinha de Madeleine ficou topada!