POEMA / PROCESSO – 50 ANOS DEPOIS (A PARTIR DA MINHA EXPERIÊNCIA)
by Almandrade Andrade
O compromisso com a pesquisa de linguagens artísticas que envolve artes plásticas, poesia e conceitos sempre marcou meu fazer. Destaco hoje a passagem pelo concretismo, poesia visual, poema / processo e a arte conceitual, nos anos 70, o que contribuiu fortemente na busca de uma linguagem singular, limpa, de vocabulário gráfico sintético. Tomei conhecimento do Poema / Processo assim que iniciei o meu trabalho entre a arte e a poesia, me preparando para cursar arquitetura, em 1972, foi fundamental para minha formação e logo em seguida conheci seus idealizadores.
Este ano se comemora os 50 anos do Poema / Processo que abriu novas possibilidades para a poesia visual surgida com a poesia concreta, fazendo valer para o poema a sua visualidade e o processo dinâmico. “O poema se faz com processo e não com palavras” (Wlademir Dias-Pino), interessa é a visualização do projeto, a criação de um processo, com a possibilidade de transformação, manuseio, mudança, até por outros poetas. E “tudo que apresenta uma constante evolução no tempo e quando se dão mudanças diz-se que há um processo” (Álvaro Sá). A palavra deixou de ser a principal ferramenta de construção do poema.
Em 1967, através de duas exposições simultâneas e provocativas, no Rio de Janeiro na Escola Superior de Desenho Industrial e em Natal na Galeria Sobradinho foi lançado o Movimento Poema / Processo com a participação dos poetas Wlademir Dias Pino, Moacy Cirne, Álvaro de Sá, Neide Sá, Anchieta Fernandes, Falves Silva, entre outros. Ao mesmo tempo era lançada a revista do grupo, Ponto 1.
Em abril do seguinte, em Salvador no Museu de Arte Moderna da Bahia-MAM, foi realizada a IV Exposição Nacional de Poema/Processo. Quatro anos depois influenciados pelo Movimento Poema / Processo, em 1972, nós integrantes do Grupo de Estudos de Linguagem da Bahia voltado para a prática de poemas calcados em experiências semióticas, em Julho de 1974, lançamos a revista “Semiótica” para divulgar nossa produção.
Sobre o poema de processo – segundo Dias Pino, precursor do movimento com o livro / objeto “A Ave” de 1956 – não está mais preocupado com o estado poético, nem mesmo com a experimentação linguística, mas mostrar, de maneira indiscutível, que o poema é físico – até mesmo total – em sua visualidade gráfica, enquanto que a poesia é puramente abstrata. Inventar novas grafias, novos códigos que superaram a ordem alfabética, é a propósito do poeta. Sem excluir totalmente o uso de palavra, mas o Poema / Processo se utiliza de recursos gráficos, de tendência geométrica, caligramática ou até ideogramática.
O Poema / Processo passou a constituir não apenas uma nova estrutura formal a disposição do fazer poético, mas também um corpo de ideias de onde essa nova estrutura derivou, resultando na riqueza dos poemas visuais que nada devem a Arte Conceitual.
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