ALMANDRADE : 50 anos de arte
Cinquenta anos de produção ininterrupta de um artista é uma oportunidade de avaliar sua trajetória, em se tratando de Almandrade, pioneiro da arte contemporânea e da poesia visual na Bahia é um exemplo raro de coerência e rigor. U m artista que desde o primeiro momento explora a tendência entre o construtivismo, a poesia visual e o conceitual. Na linha de sua produção, a materialidade do trabalho se propõe como um intermédio para transmissão do argumento conceitual. Não se rendeu a modismos, demandas de mercado nem às imposições da província, é um caso à parte na arte baiana, e porque não brasileira.
Talvez um renascentista contemporâneo, que transita em vários suportes, incluindo a palavra (poesia), sem perder o compasso e o princípio que norteia sua produção. Sem dúvida, um expoente da linha de frente da arte brasileira. Construiu ao longo desses 50 anos, silenciosamente, uma produção invejável, pouco conhecia porque o local geográfico sede do seu fazer estético conceitual, a Bahia (Salvador) foi um ambiente hostil e conservador principalmente nos anos de 1970, quando o artista escandalizou o circuito de arte baiano com sua arte que rompia os padrões provincianos e anunciava o advento da contemporaneidade. Pagou caro por sair na frente e ainda hoje não teve seu trabalho e sua importância devidamente reconhecidos.
Almandrade, com cerca de 50 anos de atividade artística, dispensa apresentações. No mínimo um artista singular e constantemente inovador no cenário cultural da cidade de Salvador. Seu trabalho, iniciado em meio ao vigor criativo que marcou o movimento artístico na década de 1970, tem um traço muito particular: representa a própria universalidade da arte, alternando-se entre a arte conceitual e experimental estética construtivista e a arte conceitual e experimental. Seu trabalho, tanto pictórico quanto linguístico, se impôs, ao longo de todos esses anos, como um lugar de reflexão, solitário e à margem do cenário cultural baiano.
“Almandrade é uma daquelas personagens aparentemente deslocadas no tempo, ou à parte, que parece caminhar para o lado, quando o relógio insiste em tocar para frente”. Assim é sua poesia e sua arte. – Arquiteto de formação, mestre em Desenho Urbano, se identifica com o momento internacional de reconhecimento e valorização da produção em arte conceitual e concreta por artistas de diversos países ao longo da década de 1970, sendo o Brasil um destaque nesta área. Este livro é o primeiro de um projeto de cinco volumes, e faz um recorte do seu trabalho elaborado em cerca de cinco décadas em diversos suportes sem perder a coerência, utilizando sempre o objeto da arte para estimular o pensamento e provocar a reflexão segundo critérios fundamentados na racionalidade, na materialidade e, não por acaso, na economia de dados, sem deixar que conceitos sobreponham ao fazer artístico o que sempre o diferenciou do cotidiano da arte contemporânea.